[Entrevistando Expatriados] Marcelo, obtendo o passaporte europeu, decidiu arriscar uma nova vida na Europa. Profissional da área de IT, pediu demissão no Brasil e mudou-se para Londres a procura de emprego. Acabou parando na Holanda e foi aí que comecou a entender melhor o que significa “Mundo Globalizado” e o que realmente representa a Comunidade Europeia.
Em sua entrevista ele nos conta quais foram os desafios e como e’ viver na “Terra dos Moinhos”.
– Nome:
Marcelo (Vivian, Caroline e Catherine)
– Onde nasceu e cresceu?
Rio de Janeiro, cresceu em Los Angeles (EUA) e Sao Paulo
– Em que país e cidade você mora?
Holanda, The Hague (ou Haia, ou Den Haag)
– Você mora sozinho ou com sua família?
Com esposa e filhas (e o cachorro)
– Há quanto tempo você reside nesse local?
1 ano e meio
– Já residiu em outro(s) país(es) antes dessa experiência?
Nao
– Qual sua idade?
42 anos
– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Tendo sido criado ate os 3 anos nos EUA, sempre tive vontade de voltar para a America, mas o sonho comecou a tomar forma bem depois, ja casado e com filhos. No ano 2001 a Vivian me acompanhou em uma viagem de trabalho aos EUA e se apaixonou pela terra do Tio Sam. Desde entao, passamos a perseguir o sonho de morar fora do Brasil. Muita agua rolou, pois queriamos imigrar legalmente. Passava horas e horas pesquisando ofertas de emprego em todos os canais possiveis, ate trazia jornais de empregos de fora quando ia viajar e enviava curriculos para as empresas. Quando recebia resposta, o que era muito raro, era meramente um “Obrigado por nos contactar…” e mais nada. Era extremamente frustrante e volta-e-meia o fantasminha da imigracao illegal vinha a nossas mentes.
– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
No meu caso nao foi necessario o visto de trabalho ou residencia para mim e minhas filhas, pois possuimos passaporte europeu, mas tive que obter o visto para a Vivian. Neste ponto, vale saber que todos os documentos comprobatorios de uma relacao conjugal devem estar traduzidos na lingua oficial do pais de destino por tradutor juramentado. Procure sempre o consulado do pais onde se dirige para informacoes e aconselho sempre ja chegar no pais de destino com os enderecos da Embaixada e Consulados do Brasil.
– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
Seguro saude é fundamental e em muitos casos e’ obrigatorio por lei. Na Holanda em especifico e’ obrigatorio e se sera’ pago ou nao depende da sua renda familiar, mas pode-se dizer que se voce nao estiver classificado no “nivel de pobreza” do pais, tera que adquirir seguro saude. No nosso caso, saimos do Brasil com seguro de cobertura internacional e optamos por esperar o fim do contrato para adquirir um seguro local. Foi um grande erro, pois nao sabiamos da obrigatoriedade legal e, quando contratamos o seguro local, tivemos que pagar a diferenca desde a data de chegada no pais (em nosso caso 6 meses). Ficamos bravos, mas nao havia alternativa.
– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Em 2005 obtive minha cidadania Europeia e o mundo mudou. Baterias renovadas, atualizei meu curriculum no Monster, agora ja “habilitado” a trabalhar na Europa, e esperei… Nao demorou muito, mas ainda assim, as respostas eram escarcas e a pergunta que sempre me fazia gelar o sangue era: “Voce ainda esta no Brasil???”. Revisei meu curriculum novamente e descobri a opcao do Skype-Out. Bingo! Ativei um numero de telefone em Londres e redirecionei para tocar no meu celular no Brasil via Skype. Acho que meu celular nunca tocou tanto. Era ate engracado ver a reacao dos head-hunters quando eles perguntavam se eu poderia ir a uma entrevista na semana seguinte e eu respondia que ainda estava no Brasil e precisaria de um pouco mais de tempo. O que aconteceu e’ que eu “virei a mesa”, ou seja, quando eles sabiam que eu estava ainda no Brasil, ja me descartavam (com algumas excessoes), e eu nao tinha nem a oportunidade de fazer a entrevista e provar as minhas qualificacoes e o meu Ingles. Quando utilizei o Skype-Out, estava em condicoes de igualdade com outros candidatos e fiz varias entrevistas por telefone. A decisao final de largar tudo e ir embora veio quando ouvi de dois head-hunters em oportunidades diferentes que a vaga seria minha, pois eles tinham visto os CVs dos outros candidatos e tinham certeza de que eu seria o escolhido, mas eu ainda nem tinha pedido demissao e teria que cumprir aviso previo. Na primeira vez eu hesitei, mas depois de perder a segunda oportunidade, pedi demissao e fui para Londres. Mandamos as criancas para passar as ferias de Julho na casa do meu irmao em Toronto e a Vivian ficou no Brasil para terminar de vender as coisas.
Ja em Londres, comecei a marcar novas entrevistas e estava super impaciente, pois o feed-back que tive ainda no Brasil foi super encorajador, entao esperava chegar e comecar a trabalhar na semana seguinte… Bom, nao foi bem assim. Passei quase dois meses agendando entrevistas, pagando aluguel e comida em libras e as economias indo embora. Cheguei ate a questionar minha decisao, mas hoje olho pra tras e sei que estava esperando demais… Comecando a sexta semana apos a mudanca, estava com a ultima entrevista marcada para a sexta-feira daquela semana (geralmente sao tres entrevistas e esta ja era a quarta Empresa que me entrevistava) em uma empresa do setor financeiro. Tudo prometia que esta ia ser a tal, quando naquela segunda-feira recebi uma ligacao de um head-hunter perguntando se eu gostaria de fazer uma entrevista em uma empresa de petroleo na Holanda no dia seguinte. Claro, foi minha resposta, e la fui eu para a Holanda fazer a entrevista na terca-feira. A entrevista foi otima, mas na quarta-feira estava me preparando para a entrevista final na empresa anterior. Na quinta-feira recebi uma ligacao do head-hunter sobre a vaga na Holanda… “Voce esta contratado! Tem que comecar na proxima segunda-feira, tudo bem?” Acho que nunca tive tantas duvidas na minha mente como naquele momento.
A empresa da Holanda é muito maior do que a empresa de Londres e a vaga estava mais dentro do que eu queria fazer do ponto de vista de carreira, entao eu ja estava decidido. Uma coisa que a gente aprende rapidinho aqui, e’ que temos que jogar aberto, portanto, ele sabia que eu tinha a entrevista final na outra empresa no dia seguinte e o head-hunter queria me segurar de qualquer forma. Disse a ele que tinha que dar a resposta depois, pois precisava falar com a outra empresa. Desliguei com o head-hunter e liguei para a outra empresa dando a noticia. Nunca imaginei que iria ouvir de um empregador a seguinte frase: “O que podemos fazer para voce mudar de ideia?”. Agradeci a oportunidade e recusei, dizendo que esperava que eles conseguissem um candidato similar e ouvi em retorno os agradecimentos e que se alguma coisa mudasse no futuro, eu seria bem-vindo em contacta-los novamente.
– Se a resposta anterior foi sim, você mudou de área depois da saída do Brasil ou continua no mesmo setor?
Nao mudei de area, continuo atuando em Business Intelligence e estou progredindo em minha carreira. Tenho cerca de 20 anos de experiencia em IT, sendo os ultimos 6 anos como consultor em Business Intelligence.
– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Ainda nao falo a lingua (Dutch), embora, apos o convivio diario, a gente acaba aprendendo o basico. Goed Morgen (bom dia), Alstublieft (por favor), Dank u wel (obrigado) e com o tempo a gente aprende a colocar tudo numa frase so, mas isso nao e’ falar a lingua.
Na Holanda cerca de 90% da populacao fala Ingles (e muito bem), mas todos os documentos oficiais sao na lingua oficial.
Acho importante aprender a lingua local. E’ muito dificil se sentir inserido na comunidade se voce nao consegue pegar o jornal de manha e saber o que esta acontecendo. Qualquer interacao com a burocracia local e’ mais dificil.
Mesmo assim, quando compramos a casa, tanto a imobiliaria quanto o escritorio do Notario traduziram os documentos para nossa compreensao, mas assinamos as escrituras em Dutch. O povo Holandes e’ muito receptivo aos estrangeiros e apreciam se voce tentar falar o idioma, mas vao falar rapidinho em Ingles se perceberem que voce tem dificuldade em falar a lingua local. Eu, particularmente gosto desta atitude, mas por outro lado, isso contribui para que eu demore mais a aprender a lingua local.
– O que você pensa sobre seu novo país e o local onde mora (e/ou onde morou)?
Existem opinioes e experiencias diferentes a esse respeito. Nunca ouvi ninguem reclamar e acho que o povo Holandes respeita muito os extrangeiros. Nao acredito que haja distincao quanto a Brasileiros ou outras nacionalidades.
Existe a curiosidade natural, pois o Brasil e’ um lugar exotico para eles. Tambem temos lacos culturais, pois o nordeste do Brasil foi colonia Holandesa e Mauricio de Nassau atuava para a coroa Holandesa.
Recentemente houveram campanhas nacionalistas para fortalecer a lingua local, pois a populacao fala muito o Ingles e a Holanda tem uma populacao de expatriados muito representativa.
– Você tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e têm amigos locais?
As criancas estao se adaptando bem. A lingua foi a maior barreira, mas apos 1 ano e meio minhas filhas falam Holandes fluente (com alguns errinhos, claro). A maioria das amizades sao com outros Brasileiros, mas se relacionam bem com Holandeses e outros imigrantes. E’ impressionante ver que minhas filhas falam hoje o Portugues, Espanhol, Ingles, Holandes e arriscam um Frances, alem de conhecerem varias palavras em outras linguas.
– Sente saudades da família no Brasil?
No meu caso, minha familia imediata ja deixou o Brasil, mas a Vivian sente bastante saudades. Nao vemos a hora de irmos visitar todos que ficaram por la.
– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Brasileiro adora uma festinha, churrasco e bate-papo. Alem de moinhos, a Holanda tem otima cerveja, entao os ingredientes para um bom programa estao ai.
No inicio, tudo e’ novidade e algumas siuacoes sao interessantes. Aqui e’ comum alguem comentar um final de semana em que voce foi tomar cerveja na Alemanha no sabado e almocar na Belgica no domingo. E’ impressionante a facilidade de locomocao que existe na Europa.
Vale a pena ter carro, mas quem nao tem, pode se locomover de trem ou aviao com muita facilidade. Alem dos moinhos, a Holanda tambem e’ o pais das bicicletas, talvez so perdendo para a China. Existem programas culturais muito interessantes, museus, passeios, parques.
Uma das coisas que sempre esta na mente dos estrangeiros aqui e’ o clima. Para nos, a regra e’: No verao vamos pra algum pais realmente quente e no inverno vamos pra algum pais realmente frio, pois aqui na Holanda nao e’ nem um nem outro.
– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
Quando se tem o historico de ja ter feito uma mudanca radical como essa, certamente nao da pra dizer nunca-jamais. Temos planos de sempre melhorar nosso padrao de vida, adaptar-se a cultura local, mas, por enquanto, “vamos ficando” e se uma oportunidade melhor aparecer, avaliaremos a situacao.
– Você comprou ou alugou o local que reside? Quanto pagou ou paga por isso? Comprar imóveis é algo comum nesse país?
O aluguel varia muito em funcao do bairro e tamanho, mas pode-se encontrar boas acomodacoes de 500 a 2500 euros por mes. No apartamento que moravamos tinhamos 02 quartos (1 era uma sala que foi convertido), banheiro, cozinha e uma boa sala de estar e jantar e pagavamos 900 euros por mes. Uma casa de 03 quartos com 02 banheiros, cozinha e salas de jantar e estar custa de 1200 a 1500 euros por mes e, se voce quiser viver muito bem pode optar por uma casa de 04 quartos, de fundo para o canal e com vista para um bosque por algo acima de 2500 euros por mes. Atualmente compramos uma casa de 03 dormitorios.
– Qual o custo de vida?
Isso depende muito do padrao de vida esperado, mas para morar bem, ter carro proprio, fazer comprinhas, jantar fora e viajar pela Europa de vez em quando vai custar uns 4000-5000 euros por mes. A escola publica tem alguns custos de material e passeios e as criancas e adolescentes terao que aprender o Dutch, ja as escolas internacionais (que sao em Ingles, Frances, Alemao, etc) sao pagas (de 10.000 a 15.000 euros por ano por crianca, pagos a vista no momento da inscricao) .
– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Positivos: Seguranca, respeito pelo individuo, economia estavel, educacao, limpeza, governo social, etc, etc, etc.
Negativos: O clima, a lingua, saudades da famiia, alguns imigrantes.
– Você tem sugestões ou dicas para pessoas que pretendem viver nesse país?
Procure avaliar suas condicoes de empregabilidade. Existe uma demanda muito grande para profissionais de IT, mas tambem existem muitas oportunidades para outras areas.
Procure se informar sobre a lingua e os costumes locais. Saiba antecipadamente se a sua profissao pode ser exercida aqui e o que voce precisa fazer para poder exerce-la. Avalie friamente se o seu nivel de ingles e’ o suficiente. Valorize suas qualificacoes e esteja preparado para oferecer referencias profissionais – Aqui eles dao muito valor a isso e e’ comum entrarem em contato com seu antigo empregador.
Faca uma reserva de dinheiro para os primeiros meses e, se possivel, guarde um pouco para fazer media no banco. Se voce possui passaporte Europeu, contacte o pais de sua segunda nacionalidade para saber os tramites de imigracao.
Um conselho muito importante: aqui, e na Comunidade Europeia de maneira geral, o Europeu pode optar se quer pagar as taxas (I.R.) localmente ou no pais de origem. Isso ira influenciar na sua aposentadoria (avalie se sera melhor se aposentar no seu pais Europeu ou nao) e ira influenciar na compra de uma casa – Por exemplo, eu pago impostos na Holanda e sou beneficiado, pois posso abater taxas no meu I.R.
Outro conselho… Se somente um dos membros da familia possue o passaporte Europeu, procure saber se o conjuge podera obter o passaporte tambem. No meu caso, se fisessemos a residencia no pais de origem Europeia primeiro, minha esposa teria direito ao passaporte apos um ano. De qualquer forma, o conjuge tem os mesmos direitos do cidadao Europeu.
Mais um detalhe… Quando colocar os pes na Europa, voce e’ Europeu – Sinta-se como tal! Se nao possue o passaporte Europeu, procure saber os procedimentos de imigracao. Algumas empresas oferecem possibilidade de recolocacao em outros paises. Tenho colegas que estao nesta situacao e a empresa em que trabalham ja trouxe outros Brasileiros para suprir a demanda de mao-de-obra. Procure outros Brasileiros que possam dar dicas.
– Você gostaria de recomendar algum web site ou blog relacionado à esse país?
– Imigracao: www.ind.nl (tem informacoes em Ingles)
– Empregos: www.monster.co.uk (este e o principal para Europa. Voce pode pesquisar todos os paises)
– Brasileiros: www.brasileirosnaholanda.com e www.xpat.nl/home
– Venda de Produtos Brasilieros: www.finalmentebrasil.nl
– Sobre The Hague: www.denhaag.com
– Imoveis: www.funda.nl
– Carros Usados: http://autotelegraaf.nl/autokopen/zoeken/?categoryId=1
– Carros Novos: Visite o site do fabricante. Sempre tem tabelas de precos.
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