Maira foi para Portugal para fazer mestrado. Chegou com o visto de estudante e hoje tem o visto de residência e casada.
De uma forma muita clara e sem fantasia, ela nos conta como foi sua adaptação ao estilo de vida português, as vantagens e desvantagens de viver nesse país e outras dicas que valem a pena serem lidas…
– Nome:
Maíra Bandeira
– Onde nasceu e cresceu?
Nasci em Teresina – PI, morei em Campinas – SP, fiz intercâmbio pela universidade em Kearney, Nebraska – EUA e ainda morei em Fortaleza – CE.
– Em que país e cidade você mora?
Agora moro em Portugal, em uma cidadezinha a uns 30km da cidade do Porto, a segunda maior cidade do país, depois de Lisboa.
– Você mora sozinho ou com sua família?
Moro com o meu marido, apesar de já ter morado sozinha, quando cheguei, nas residências universitárias da Universidade de Aveiro.
– Há quanto tempo você reside nesse local?
3 anos e alguns meses.
– Já residou em outro(s) paíse(s) antes dessa experiência?
Fiz um intercâmbio para melhorar o meu inglês nos Estados Unidos, morava na cidade de Kearney, estado do Nebraska.
– Qual sua idade?
28 anos
– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Eu sempre havia pensado em fazer o meu mestrado no exterior e já estava tentando entrar em algumas universidades de alguns países como o Japão, Inglaterra e Portugal, foi quando saiu o resultado das universidades portuguesas e já nem continuei o processo de seleção nos demais países, achei que a proximidade da língua ajudaria a vivência nesse novo país. Depois, foi tentar escolher entre Porto e Aveiro para fazer esse curso. Optei por Aveiro por ser uma cidade um pouco menor e, talvez, mais fácil de viver. E era realmente, mas se você vem de cidades grandes do Brasil, vai achar Aveiro muito pequena e parada, apesar de ser linda.
É sempre difícil tomar a decisão de sair do nosso país e ir morar em outro, até porque eu já ia pela segunda vez e sabia que as coisas não eram assim tão fáceis. Na primeira vez ia amparada por uma instituição que promovia o intercâmbio, mas dessa vez era por minha conta e risco, mas mesmo assim decidi arriscar. Acho que valeu a pena.
– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
Na verdade eu vim pra cá com o visto de estudante, para o mestrado. Não foi assim muito difícil, mas eles exigem muitos papéis e documentos para isso, além de seguro saúde e uma garantia de que você tem um meio de sustento para esse período que vai passar no país. Esse meio de sustento pode ser, por exemplo, uma poupança que você tenha ou a ajuda dos pais mas, nesse caso, tem de mostrar declaração de imposto de renda deles e a folha de pagamento. Você pode consultar a lista de documentos necessários para o visto de estudante nesse site aqui (http://www.secomunidades.pt/web/brasilia/PedidoVisto).
Mais tarde, quando casei que fui atrás da autorização de residência, que tem uma duração de mais tempo e te dá direitos maiores que o visto de estudante, como, por exemplo, o direito de trabalhar um maior número de horas, sem contar que não precisamos renovar todos os anos. Para autorização de residência, que é feita aqui, no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – SEF, você vai precisar de mais alguns documentos, embora menos. De qualquer forma, apesar da burocracia, nunca tive problemas para conseguir nem o visto de estudante, nem a autorização de residência.
– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
Sim. Para conseguir o visto para vir para Portugal é necessário ter seguro saúde, que nesse caso é feito no Brasil. Esse seguro saúde pode ser caro, dependendo de onde você faça. Ha no entanto, e infelizmente é pouco divulgado, um acordo entre Brasil e Portugal que diz que os cidadãos brasileiros, se inscritos no INSS, não necessitam de seguro saúde pois têm atendimento garantido na rede pública em Portugal. Antes da viagem, no entanto, deve-se ir ao ministério da saúde no Brasil pedir um documento específico.
– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Ainda não. Nos primeiros anos dediquei-me exclusivamente ao mestrado, só no último ano comecei a procurar emprego verdadeiramente, mas não é fácil. Quer dizer, tem sempre emprego, de atendente de loja, servindo em cafés, na construção civil para os homens… Mas se você quer conseguir emprego na sua área (mão de obra qualificada), como é o meu caso, é bem mais difícil.
– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Apesar de em Portugal, teoricamente, falarmos a mesma lingua, a verdade é que são tantas palavras diferentes, ou palavras iguais com significados diferentes que as vezes pensamos se falamos de verdade a mesma língua. Penso que é importantíssimo aprender a língua do país em que se está a viver e, no caso de Portugal, aprender as palavras que eles usam. Não é difícil encontrar pessoas aqui que se vão fazer de difíceis em te ajudar se você perguntar, por exemplo, onde se pega o ônibus ao invés do autocarro. Pra quem vem a turismo pode pensar que eles acham bonitinho o jeito de nós falarmos e que nos ajudam sempre, mas quando se mora aqui a coisa parece um pouco diferente. O melhor mesmo é tentar se adaptar às gírias e vocabulário local, ajuda, inclusivamente, na hora de arrumar um emprego ou na convivência na universidade.
– O que você pensa sobre os locais? Eles respeitam Brasileiros e outros expatriados vivendo nesse país?
Em geral gosto dos portugueses, são simpáticos e acolhedores, mas não são sempre assim, nas grandes cidades, principalmente, eles podem ser grosseiros e estúpidos sem ter muitos motivos pra isso, não só com estrangeiros mas com locais também, mas discriminam mesmo gente de fora, quer dizer, gente de fora e de países em desenvolvimento, principalmente as suas ex-colônias como o Brasil e países da África, nesse caso acrescente o racismo, eles são mesmo muito racistas. Mas lembro, não são todos e nem a maioria que discrimina e você, com certeza, vai encontrar pessoas muito legais na sua estadia nesse país, embora não saia daqui sem ter visto ou sofrido nenhum caso de discriminação.
– Tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e tem amigos locais?
Não tenho filhos.
– Sente saudades da família no Brasil?
Claro. Estaria mentindo se dissesse que não. Mas por enquanto tenho conseguido ir com frequência ao Brasil, o que ajuda a matar essa saudade. Fora isso, há internet e telefone sempre.
– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Acho que o passeio preferido do português no final de semana é ir ao shopping, principalmente no inverno quando andar lá fora não é assim muito convidativo, os centros comerciais estão sempre cheios aos finais de semana.
No meu caso, se precisar ir ao shopping vou de manhã que tem menos gente e aproveito os meus finais de semana e feriados para ir aos parques, que por aqui é costume ter ao menos um nas cidades e para conhecer mais lugares em Portugal ou mesmo Espanha. O fato de ser um país pequenino proporciona isso a gente. Pegamos o carro e vamos sempre a lugares diferentes ou lugares que já fomos mas gostamos de voltar.
Aproveito também pra ver exposições ou teatros. No Porto, por exemplo, a Fundação Serralves que sempre tem exposições interessantes e um jardim maravilhoso tem entrada gratuita aos domingos pela manhã e até as 14h.
Acho que o mais diferente do Brasil é essa possibilidade de pegarmos um carro e não só, pode ser de trem, e ir em um dia conhecer lugares diferentes, pela proximidade deles.
– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
Ainda não temos nada certo. Pensamos em voltar para o Brasil, as vezes, ou mesmo em ir para outro lugar, mas por enquanto a nossa vida é por aqui mesmo.
– Você comprou ou alugou o local que reside? Quantou pagou ou paga por isso? Comprar imóveis é algo comum nesse país?
Moramos em um apartamento comprado. Em Portugal os imóveis são bem baratos em relação ao restante dos países da Europa, mesmo assim não são baratos, mas é comum as pessoas comprarem as suas residências. Geralmente não são apartamentos grandes, como em todo o resto da Europa, nada daquilo do Brasil de ter um banheiro em cada quarto, aqui dependendo do número de quartos pode ter apenas um banheiro. Um apartamento com dois quartos, um banheiro, sala e cozinha aqui onde moro custa em torno de €100.000,00 que em reais de hoje seriam R$260.000,00. Os aluguéis giram em torno de €370,00 (R$ 926,00) mas claro que depende da localização, do tipo de imóvel e etc.
– Qual o custo de vida?
Aqui no norte a vida é mais barata que em Lisboa, com uns € 2.000,00 dá para se viver bem. Claro que se quiser fazer uma super vida vai precisar de mais, mas para uma vida normal, acho que está bom.
– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Pontos positivos: o clima, tem as quatro estações definidas e não é tão frio quanto outros países da Europa, o fato de ser pequeno e com boas estradas da oportunidade de fazer passeios internos. Com o que se ganha aqui, mesmo não sendo muito consegue-se viver bem, ao contrário do Brasil, facilidade em encontrar coisas brasileiras pra matar saudade e a segurança
Negativos: salários baixos em relação ao resto da Europa, dificuldade em arrumar emprego, discriminação com brasileiros de vez em quando.
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3 Comentários
Boa Tarde, adorei o texto da Maíra e pensando em fazer um mestrado em portugal gostaria de saber como consigo que meu marido vá junto? Existe algum visto específico para companhante de estudante? Ele poderia trabalhar?
Sofia, ele terá que trabalhar. Qdo meu pai foi com minha mãe, ele foi com visto de turista e depois conseguiu um trabalho, mas o certinho mesmo é procurar no Brasil e já ir com o visto de trabalho.
[…] Maira conta para o Entrevistando Expatriado como eh sua experiencia vivendo em Portugal. O conteúdo dessa entrevista foi transferida para: https://www.mikix.com/vivendo-em-portugal/ […]