Sou o filho do meio. Pensando bem, nem do meio. Sou o penúltimo filho de número par. Mas não posso deixar de invejar o caçula. Uma inveja do bem, mais admiração e respeito do que ciúme. O caçula é o que ficará mais triste quando a casa está triste, é o que ficará mais alegre quando a casa está alegre. É a tomada, o trinco, a aldrava, o último a deixar a mesa, o último a trocar de quarto, o último a sair da residência, o último a casar, o último a receber as más notícias e o primeiro a descobrir as boas. Não é o mais mimado, todos os demais cresceram muito rápido e ele foi o raro que permaneceu perto dos pais. O caçula é o mais ponderado, ordeiro, generoso. Limpa a sujeira e se cala quando não formou opinião. Escapa dos vícios dos mais velhos, tampouco faz de si uma virtude. É a vítima da piada, não o algoz. Não devolve a ofensa, guarda para adubo. O caçula é nostálgico, o que viveu nunca será suficiente para se convencer de vida. O caçula é o filho inesperado, o amor inesperado, a amizade inesperada. Não tem jeito de profeta, tem jeito de profecia. Seria o anjo da família se não houvesse castigo. Seria o anjo da família se houvesse tempo. O caçula não tem vergonha de amar a mãe. Tem disciplina de amar. A mãe envelhece perante os demais, não para o caçula. O caçula não permite o asilo. Pode ser homem feito que continuará o caçula. É ele que colocará uma coberta de noite quando a mãe dorme. É ele que vai se distanciar do grupo para colher amoras para a mãe. É ele que vai arrumar o computador da mãe quando os outros dizem que estão ocupados. É ele que virá de longe para os aniversários. É ele que telefonará aos seus irmãos perguntando se precisam de alguma coisa. A família desmorona, mas o caçula não. Recomeça dos escombros como um animal resistente. A vitória do caçula é vista como obrigação. O caçula não culpa os outros, culpa a si mesmo. Não corrige, passa a limpo. O caçula dá a mesada que recebe, reparte o salário que não tem. É o sótão, a vitrola, os móveis antigos, enxerga fantasmas, porém não delata o que vê. O caçula abraça como se fosse uma despedida. Chega a doer o abraço do caçula. Dor alegre de irmão que não quer se separar. O caçula é o mais fiel dos amigos, pois deve ter sido o único que conheceu realmente a solidão. Duvida até da morte para se aproximar um pouco. O caçula acredita em qualquer lembrança contada que tenha seu nome e desconfia de qualquer lembrança que partiu de sua memória. O caçula é dos filhos o que não se acostumou a nascer.
Fonte: Fabrício Carpinejar

Apesar dessas palavras não serem minhas, meu irmão caçula é pouco disso tudo… chegou um pouco tarde e sem ser programado, mas é a jóia que temos em casa, o melhor de nós, sem dúvida!
Gu
Parabéns para o Gu… meu irmãozinho que amo tanto e que nem sabe o quanto! Queria estar ai para te dar aquele abração e ir comer um pizza com você na Dona Veridiana 🙂