Sinceramente, não consigo entender a cobrança de sentimento diante das tragédias, desde quando precisamos sentir da mesma maneira? Desde quando precisamos apoiar todos as mesmas causas? Desde quando uma tragédia é mais importante que a outra? E desde quando precisamos ser patriotas diante das tragédia? Na minha opinião, foi ridículo assistir durante esse final de semana, amigos, especialmente expatriados, sendo crucificados nas mídias sociais por se solidarizarem com a Paris, pois afinal de contas, brasileiros só podem sofrer com tragédias e desalento do Brasil … o resto mundo pode cair por terra, não tem problema…
Hoje mesmo, li um artigo muito interessante,”Letter from Beirut:’It is never just a bomb‘”, de um Sírio “cobrando” pela mesma falta de apelo das redes sociais diante das atrocidades que ele vive no dia a dia … imagine que os Sírios estão vivenciando esse terrorismo todos os dias, e nós aqui, sentados no nosso sofá confortável nem nos damos conta disso, pois estamos mais preocupados com o que terá de janta… Mas esse grito desse moço, não nos atinge, pois afinal, quem quer saber o que está acontecendo de verdade com o povo da Síria?
Sério gente … será que eu preciso explicar que estamos todos dilacerados com o que aconteceu com Mariana no Brasil, mas isso não significa que Paris não tenha atingido meu peito. Vamos parar com essa besteira que nosso sofrimento é maior que o do outro, porque se pararmos pra pensar, há muitas tragédias acontecendo todos os dias, e em todos os lugares do mundo … e se pensarmos fraimente, nem nos preocupamos com a maioria deles.
Na minha opinião, tudo é muito simples, o indivíduo tem a tendência de sofrer mais por uma coisa ou outra, quando ele consegue se colocar no lugar de quem vivenciou o problema. Por exemplo, é muito mais fácil pra mim, que vivo aqui entre os Estados Unidos e Canadá, achar que um louco terrorista vai explodir uma bomba no supermercado que frequento toda semana, do que um mar de lama tóxica invadir minha cidade. Eu sei, a comparação foi péssima, mas sem muito piegas, é assim que pensamos… o que está mais próximo da gente, é o que nos atinge mais emocionalmente.
Dessa forma, quando eu vi na TV os ataques a Paris, simplesmente paralisei… fiquei indignada … não acreditei que aquilo estava acontecendo de novo, pois não tive como evitar lembrar do sentimento de desespero que senti quando aconteceu o ataque de 11 de Setembro. Mas isso não quer dizer, em momento algum, que não sofra profundamente por tudo que está acontecendo pela catastrofe de Mariana, pela corrupção sem fim do Brasil que é indiretamente causador de tantas mortes, pela violência urbana brasileira, pelas meninas do Piauí, e tantos outros eventos que nos causam indignidade.
Enfim… a ideia aqui não é menosprezar o que nós brasileiros estamos vivendo, mas entender que o mundo também sofre. Somos livres também para sentir e se expressar. Ou você vai me dizer que uma mãe que perdeu um filho em Mariana, sente diferente da mãe que perdeu o filho em Paris?
E disso podemos tirar uma lição, se quisermos que o mundo escute nossos problemas, podemos usar as mídias sociais pra isso … pode ser que não tenha o apoio que Paris teve, mas ela pode e deve ser usada para espalhar o que pensamos, sentimos e tudo aquilo que queremos que o mundo saiba.
Mas agora eu te pergunto … você que hoje pensou no que aconteceu em Mariana, já fez alguma coisa para ajudar as famílias que estão lá? Ainda não? Então chegou sua vez … doe para a campanha #UmAbraçoEmMariana que a RBBV, Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem, está organizando, que já doei e estou ajudando a divulgar. Nosso objetivo é arrecadar o mínimo de R$8.000 e, todo o dinheiro arrecadado será utilizado para a compra e distribuição de água mineral para os moradores dessas cidades.
Muitas ideias bagunçadas nesse post, eu sei … mas queria escrever alguma coisa sobre isso!!! E por favor, doem!!! 🙂
6 Comentários
Janta ou jantar?
Como preferir ;)
Em 1986 escrevi um poema sobre a guerra civil no Líbano intitulado "A Balada do Refugiado". Declamei este poema no palco do Teatro da Praça aqui emTaguatinga. Fui aplaudido de pé, pois havia muitos imigrantes libaneses na plateia. Em 1993 escrevi um poema sobre a guerra civil na Iugoslávia, intitulado "Bosko e Admira". Recebi uma boa crítica de escritores no Rio Grande do Sul, onde este poema foi publicado. Em Brasília há muita gente de Minas Gerais, que manda donativos e ajuda financeira para Mariana, incluindo minha igreja, a Presbiteriana. Ninguém está alheio aos acontecimentos. Há muitos refugiados da Síria aqui e este atentado em Paris causa preocupação com as Olimpíadas no Rio de Janeiro neste novo ano que se aproxima.
Pois é ...
Abs meu amigo
Acho que a grande questão nem deveria ser comparar tragédias, mas sim por que ninguém se importou mt com ataques terroristas no Quenia, por exemplo, que morreram mais de 200 pessoas morreram...
Concordo com seu ponto ... são tragédias todos os dias, e é triste que nós e a mídia tenha "preferência" por uma ou outra...
É um assunto muito complicado.
Abs