Ontem acabei de ler o livro “As Boas Mulheres da China“, de Xiran. Se gostei? Então, essa é uma pergunta difícil de responder. O conteúdo em si não é muito digestivo, pois conta a história de mulheres chinesas que viveram durante a revolução cultural da China e que de certa forma foram tolhidas de serem mulheres. Fiquei muito impressionada com as histórias e senti uma mistura de pena e raiva, pois muitas sofriam sequencia de estupros, espancamentos, falta de liberdade e medo de se expressar. Essas eram historias comuns de se ouvir e que infelizmente ainda permanecem no dia-a-dia dessa geração de mulheres.

Depois desse livro, comecei a entender melhor uma amiga chinesa que tenho aqui no Canada. Ela é mais velha que eu (deve ter uns 45 anos e eu tenho menos de 30 anos) e não sei porque, ela resolveu se abrir comigo e contar as historias, os sentimentos e os medos que ela passou durante sua vida. No começo achei que ela exagerava um pouco, pois sempre fazia um dramalhão para me contar as coisas. Dia desses ela me contou que era divorciada, depois olhou bem para os meus olhos e perguntou se mesmo assim ela poderia continuar frequentando minha casa! Eu não entendia o motivo de tanta culpa naquela época, mas sempre dizia para ela ficar tranquila e não se preocupar, pois isso era comum na nossa sociedade e ela sempre seria bem-vinda em casa.

Há um ano e meio ela tomou coragem e se casou novamente, com uma pessoa muito especial. E o melhor de tudo é que o casamento foi na minha casa! Foi uma cerimônia muito gracinha, cheia de flores, fizemos altar e tudo mais. Inclusive, eu fui a “maid of honor”, tipo uma madrinha especial que segura a aliança dos noivos, imaginem minha emoção! Contudo, uma coisa me chocou, pois nenhuma das amigas chinesas que ela tinha foram na cerimônia, pois os maridos as tinham proibido de conversar com essa minha amiga, pois ela não era mais uma pessoa boa e digna, só porque era divorciada!

Vocês conseguem imaginar um negócio desse? Tudo isso é tão fora da minha realidade que eu fico com a cabeça tonta. Se na nossa sociedade ocidental as mulheres ainda lutam por direitos e oportunidades iguais, imagino o quanto sofrem mulheres que ainda não chegaram nem na metade do que já conquistamos.

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