Eu sempre digo, no momento que você tira o pé do seu lugar de origem, o mundo se abre de uma maneira que parece que não existe mais limite para o que você quer fazer, ir ou conquistar (não financeiramente, mas como pessoa). Ao mesmo tempo, um mundo de novas perguntas sem respostas também passa a frequentar sua vida… São dúvidas de imigrantes

Em 2010, nosso querido amigo Gilberto escreveu um post excelente sobre dúvidas, angústias, burradas sobre a vida imigrante… e como ele tirou o blog Northern Lights do ar, pedi para deixar o texto aqui e não deixar essa experiência se perder…(#RevivendoPosts)

A mente prega peças, por Gilberto Alexandre

July 28, 2010

Imigração Canadá

Imigrar não e fácil, todo mundo sabe, mas por outro lado se iludir e bem facinho. Recentemente nós passamos por um momento muito ruim por conta de uma ilusão. Mais precisamente um problema pessoal. Eu explico.

Eu, Gilberto, sempre fui muito critico em relação a tudo. Critico em relação as pessoas, ao Brasil, ao trabalho e também critico de mim mesmo. Por insatisfação minha com o Brasil nos acabamos imigrando, primeiro para a Austrália e depois para o Canadá.

Também por insatisfação, eu tenho “pulado” de empresa para empresa. Na minha cabeça era tudo culpa do Brasil, da empresa, do gerente, do cliente, etc. Agora, depois de ter trabalhado 10 anos com engenharia civil (no Brasil, na Austrália e no Canadá) eu sou obrigado a reconhecer que o problema e na verdade MEU.

Se fosse só isso estaria tudo bem, porém eu coloquei na minha cabeça que eu não conseguiria ser feliz profissionalmente no Canadá e que teria que voltar para o Brasil para resolver esse problema. Mas desta vez seria diferente, seria para o Sul do Brasil, para uma cidade com qualidade de vida, como Curitiba, e tudo se resolveria.

Com esse objetivo eu fiz um concurso para uma universidade federal em Curitiba e passei (eu acho que a minha vocação é relacionada a pesquisa, ensino, etc.). Nesse momento, vaidade e orgulho vão para a estratosfera e aí que você tem certeza que tudo vai dar certo. Errado de novo. Soma-se a isso que você passa a juntar todos os argumentos que você dispõe para sustentar a sua decisão. Você diz para si mesmo que agora você e mais maduro, mais tolerante, realça os pontos positivos e trata de minimizar ou se resignar com os negativos.

Como algo parecido já tinha acontecido (voltar para o Brasil sendo imigrante; desta vez na Austrália) resolvemos que a Luciana (minha esposa) continuaria trabalhando no Canadá e eu iria na frente para começar na universidade. Depois de tudo certo por lá, venderíamos a casa, o carro e faríamos a mudança (mais uma; talvez a 12a).

Decisão tomada, desembarquei em Curitiba na terca-feira passada e em Toronto ontem (alguns dias depois). Ou seja, minha vontade toda de ser professor universitário acabou em menos de uma semana. Saudades da esposa, dos amigos que fizemos aqui e principalmente do privilegio (visão minha) de viver no Canadá me trouxeram de volta, e desta vez, foi muito mais rápido que da primeira burrada nossa. Fazer o que, tem certas coisas que precisamos viver para aprender. By the way, espero que esta seja a ultima recaída braba que leve a gente a tomar uma atitude como essa.

O que aconteceu? Eu acredito que eu fiquei mal acostumado com o Canadá, mimo mesmo, mais intolerante com os problemas que se vê no Brasil, sei lá. O mais importante é que quando eu cheguei a Curitiba eu sabia, internamente, que tinha feito burrada.

Eu respeito quem voltou, quem vai voltar e quem quer voltar, aliás eu admiro, pois tem que ter muito amor pelo Brasil (e coragem) para tornar a pisar em solo brasileiro. Para esses eu tenho apenas duas palavras – Good Luck!

Acho que agora eu vejo o Brasil mais com olhos de quem escreve “Brazil”, ou talvez eu tenha me tornado mais egoísta. A imigração modifica a gente, mas não necessariamente melhora a gente (apesar de gostar de acreditar nisso). Uns ficam mais tolerantes, outros o contrario. Passamos a nos orgulhar de certas coisas que não nos orgulhávamos no Brasil, mas também, passamos a criticar (talvez até ficar envergonhados?) de certas coisas que não criticávamos no Brasil. Ou seja, somos diferentes hoje por conta da imigração, e ao voltar ao Brasil (mesmo que de ferias) temos reações diferentes.

O que ajudou a não cometer uma burrada maior, foi o fato de termos comprado a nossa casa recentemente (que a gente tanto gosta), o fato da Luciana gostar muito do Canadá e estar muito bem no trabalho, dos amigos que aqui fizemos, ou seja, raízes. E se realmente voltássemos ao Brasil eu teria resolvido um problema (quero acreditar quem sim) e teríamos criado umas três dezenas.

Por que escrever sobre isso? Porque eu acredito que isso acontece com outras pessoas também, talvez em graus diferentes, mas que eu acho que acontece, eu acho. Acho que as vezes a gente troca as bolas, se confunde, enfim coloca os pés pelas mãos. Escrever também me ajuda a tentar entender o que eu fiz e acaba sendo um registro do que eu vivi. Assim se eu quiser fazer isso de novo no futuro (Deus me livre) e só consultar o registro de burradas e me lembrar de tudo.

Algumas vezes você e levado a fazer isso por problemas pessoais. Problemas estes que não serão resolvidos quando você imigra e que também não serão resolvidos se você resolver voltar pro Brasil.

Acho também que a não convivência com aqueles problemas cotidianos do Brasil fazem com que você adquira uma visão “romântica”. Por fim, acho que o outro componente é imigrar pelo motivo errado, tipo fugir de algo, querer ficar milionário.

Se você tem ao menos um desses componentes você pode acabar voltando para o Brasil (mesmo que apenas por uma semana) e vai acabar se arrependendo. Foi tudo uma ilusão, você foi traído pela sua mente. A mente prega peças.

Mais uma vez, não estou condenando quem já voltou, quem vai voltar, quem pensa em voltar ou quem imigrou só para ter uma experiência internacional. Esse post e apenas um registro que pode ser útil para outros assim como espero que seja útil para mim mesmo.

E o que eu vou fazer agora? Vou tratar de tentar resolver o meu problema profissional. Talvez tentar ser professor universitário aqui no Canadá, ou mudar de profissão, ou mudar a minha personalidade (quem dera, acho que eu vou ter que viver mais umas 100 vidas para mudar minha personalidade). Vou procurar algum profissional que faça orientação vocacional, terapia, aroma e/ou cromoterapia, Budismo, sei lá! Ou seja, vou dar os meus pulos, mas no Canadá!

Um abraço,
Gilberto

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