Apesar do blog ser direcionado a dividir minhas aventuras expatriadas e viagens pelo mundo, acredito que aqui também é um pouco do meu diário pessoal, aquele velho esqueminha de blog que conhecíamos no passado… e é por isso que gostaria de dividir com vocês, meu amigos reais e virtuais que lêem o blog e dividem comigo momentos bons e ruins dessa vida, esses sentimentos e emoções que estou aprendendo a lidar…

Outono em Nova York
Foto por Piotr Bizior

Na semana passada, quando ainda estávamos a caminho do aeroporto de Denver (Estados Unidos) para voltarmos pra casa (Toronto), recebi a pior notícia que um imigrante que deixou a família longe pode receber; que meu pai havia se despedido da gente, o coração dele bateu mais forte naquele dia, e ele não resistiu. Eu não sei explicar o sentimento, pois foi uma mistura de impotência, tristeza, amargura e fraqueza que me consumiu, especialmente quando não é uma notícia esperada. Sinceramente não desejo isso a ninguém, por mais que eu saiba que é uma realidade que todos um dia vão ter enfrentar.. Mas enfim, por obra do espírito santo, conseguimos pegar um vôo para o Brasil e chegarmos a tempo para confortar e receber o conforto da minha mãe, irmãos, parentes e amigos no velório e enterro.

Eu sou uma pessoa muito fechada ao lidar com meus problemas, acho que eles são meus e ninguém precisa sofrer comigo, mas nesse episódio, também aprendi que é preciso dividir a dor com as pessoas que amamos, pois da mesma forma que elas nos querem para a alegria, elas também estão ali para o abraço apertado, pela palavras amigas e pelo olhar carinhoso.

Fica aqui então minha forma de despedida e a certeza de um novo recomeço para nós e para ele… unidos sempre, mas de forma diferente…

Papai Gofredo Pai…

Dessa vez fui eu quem não usou aquele ditado que tudo o que devemos falar, que seja em vida, pois depois pode ser tarde demais…
E é assim que estou te escrevendo, sabendo que não terei resposta e nem aquele seu jeitão dizendo “tá tudo certo Lemoa, não se preocupe!“.
Eu queria te falar que entendo aquela sua cara amarrada e aquela sua desilusão da vida… num governo como o do Brasil, fica complicado não ficar nervoso e não se sentir roubado… Sei que aquele plano do Collor, te deu o nocaute final! Talvez por isso que discutíamos tanto quando você me dizia que gostava da época da ditadura e eu nunca consegui entender, na verdade hoje eu entendo sua percepção de que aquele mundo sempre foi melhor pra você e seus negocios, mas confesso que ainda não consigo compreender… Se você visse como foi linda o protesto ontem nas capitais do país, espero que resulte em alguma coisa e que finalmente possamos ver um país sem corrupção, malandragem e violência.
Mas eu agradeço por nunca ter nos nao deixado sentir esse impacto dos anos 80 e 90… Nossa vida foi sempre tão calma, tranquila e sem os altos e baixos que você tanto odiava… Amo você pela vida estável que você e a mamãe nos proporcionaram emocional e financeiramente.
Eu entendo também essa sua aversão aos computadores e ao mundo “moderno” que eu convivo diariamente, quando olho para as crianças de hoje, acho que em 5 anos estarei obsoleta e não darei conta das novidade que estão para surgir, como é difícil né, pai?! Parece que o mundo começa andar mais rápido que nossa capacidade de captar as mudanças, mas é assim mesmo… Talvez a gente deveria ter tido mais paciencia de te ensinar, mas o mundo é de quem esta chegando, nao é mesmo? Não devemos competir com essa nova geração, mas somente passar nossa experiência de vida que vai muito além dos eletrônicos… Aprendi isso analisando sua vida esse semana e me colocando no seu lugar…
A única coisa que não consigo te entender de verdade, foi esse descuido com sua saúde e com você mesmo! Mas ao mesmo tempo, isso me abriu ainda mais a mente que não quero e não vou ser assim, quero me cuidar para ver mais uma geração chegar e mudar o mundo, não quero ir embora com apenas 67 anos por minha indisplicência… sei que estou sendo cruel e sei que nunca fui muito boa em medir as palavras com o pessoal de casa, mas pai, posso confessar também, que essa sua vida sedentária é o que nos conforta um pouquinho nesse momento? é como se fosse a única reposta que encontramos para entender essa sua despedida tão repentinha.
Ai pai… Daria tudo para não ter tido aquela noticia no estacionamento do hotel… Foi tão difícil! Não queria acreditar. Mas faz parte da nossa maturidade, né?! Eu sei ou estou me convencendo disso…
Mas enfim, como a Lu da Tia Marli disse, agora vou poder falar com você a qualquer momento e de qualquer lugar, pois nem que você não queira, estará me acompanhando nas minhas viagens e aventuras pelo mundo, me protegendo e zelando por mim, pois as vezes, acho que dou muito trabalho para meu anjo da guarda 😉
Você sabe que sou meio cética nessas coisas de espiritualidade, mas se tudo isso existir, sei que sua presença estará sempre ao meu lado…
Vai em paz pai… Pode deixar que da mamãe a gente cuida! E como dois outros amigos me disseram “Saudade… é o amor que fica!” e é essa saudade boa e das nossas lembranças com você, que estou deixando o tempo colocar em meu coração…


Amo você, PAi!