Malásia só entrou nos nossos planos de viagem para o Sudeste Asiático (em 2010), devido ao local estratégico para fazer conexões usando a Air Asia. Tendo isso em vista e querendo ver mais do país além de Kuala Lumpur, resolvemos arriscar algo diferente e fizemos um bate-e-volta a Malacca ou Málaca ou ainda, Melaka (como preferir!).
Malaca, influencia Holandesa
Prédios de influência holandesa

Para isso contratamos um motorista, através do nosso hotel (Meliã) e seguimos os 140km/1h45 até Malacca, em uma estrada muito bem mantida. Aliás, essa nossa “primeira” viagem a Asia, foi um grande quebra de paradigmas, pois para quem pensa que só vai encontrar pobreza, templo no meio do mato e praias surreais, vai ficar de queixo caido com as grandes metrópoles como por exemplo; Cingapura, Kuala Lumpur e Bangkok, vai notar que nem todas as praias são lindonas, e além de ter muitos templos budistas e hindus, vai encontrar também muitas mesquitas…

Mapinha do caminho:
Kuala Lumpur para Malaca - via Google Maps
Fonte: Google Maps

Málaca é uma cidade bem pequena e em um dia é possível conhece-la a pé. Os pontos mais distantes, o motorista pode te levar 🙂

Achei divertido poder descobri nos quarteirões que passávamos, as várias facetas multi-culturais da arquitetura da cidade e notar as influências Malaya, Portuguesa, Holandesa, Britânica, Chinesa, Indiana etc… É como que se percorrendo pelas ruas, fosse uma simples forma de entender a história do local e compreender a mistura de culturas que a criou. Notar também os traços multiculturais e raciais dos habitantes, pode ser uma interessante brincadeira.
Malaca, povo e rua
Em uma das ruas de Málaca…

Começamos nosso passeio pelo pedacinho Holandes de Málaca, o Sthadthuys, onde pegamos nosso mapa no centro de informação turístico.

Logo ao lado, a margem do rio, o Museu Marítimo pode ser uma boa introdução ao passeio e para conhecer um pouquinho mais da história da região, incluindo o ponto de vista asiático da colonização européia. Tenho notado, que todas as viagens que fazemos fora do circuito ocidental, um novo horizonte se abre e a história do mundo começa a fazer mais sentido, pois aquele be-a-bá das salas de aula, nos faz ficar meio alienados, não é mesmo?
Malaca, Museu Marítimo Malaca, moinho holandes
Museu marítimo e um moinho…

Para quem gosta de história, segue aqui um pouquinho do que aprendi:

A história da cidade começou com o prícipe hindu Parameswara, que estava procura de um novo lugar para ele e seus seguidores criarem um “novo” reinado. Diz a lenda, que por volta do ano 1.400, as margens do rio Bertam, Parameswara avistou um veado branco (pelanduk) dando coice em um dos seus cachorros. Impressionado com tal gesto de bravura do animal, decidiu que ali seria o local perfeito para construção da sua cidade e a nomeou Melaka, que era o nome na árvore na qual estava descansando.

Na realidade, a localização era ideal para ser o centro de transações comerciais entre a China, India, Java e o Oriente Próximo. Tendo isso em vista, em 50 anos Malacca cresceu, se fortificou e ganhou uma população de mais de 50.000 habitantes. Nesse meio tempo, com o forte relacionamento entre os povos do oriente, o Islamismo foi introduzido na região e se tornou a religião oficial da cidade, substituindo o hinduismo.
Malaca, mistura de influências
Muçulmanos, templos budistas e turistas…

Os principais produtos comercializados eram: seda e porcelana (China), tecido (India) e vários tipos de especiarias e metais vindos de Borneo, Timor, Moluscas, Sumatra e oeste da Malásia.

Infelizmente (?), nessa mesma época, os europeus começaram expadir as “relações” com o leste e obviamente, Malacca foi uma das cidades que atraiu imediatamente os olhos gananciosos de Portugal. Em 1511, Alfonso de Albuquerque tomou a cidade, expulsando o então sultão Mahmud do poder e da cidade. A construção do forte, “A Famosa”, consolidou o controle da cidade e missionarios jesuítas, como St. Francisco Xavier, vieram para disseminar o catolicismo. Apesar da tal conquista, eles conseguiram somente desorganizar e destruir toda rede de comércio estabelecido na região, levando Málaca ao declínio.
Malaca, Portal De Santiago
Portal De Santiago, única parte do forte “A Famosa” sobreviveu aos dias atuais…

Depois de 8 meses de cerco, em 1641, os Holandeses tomaram Málaca e iniciaram o processo de re-construção da cidade por outros 150 anos… Em 1795, foi cedida aos britânicos, passando a ser governada pela Companhia Britânica das Índias Orientais, por 3 anos, durante a segunda Guerra mundial, os japoneses também tiraram umas lasquinhas, e finalmente se tornou parte da Malásia em 1957.

Agora que já descobriram um pouco mais de Málaca, o caminho sugerido pelo Malaysia Traveller (clique aqui) é uma excelente forma de percorrer a cidade e o não perder os pontos turistícos mais importantes. Se 7.5km for muita coisa, eu iliminaria as parte adjacentes como Hang Li Poh’s Well até o Sentosa Village, e me concentraria somente no centro, que já tomará pelo menos 4 horas do dia.
Malaca, canal
Ponte que “dividi” o lado ocidental do oriental… (conclusões pessoais!)

Assim como Macau, me empolguei demais com a influência portuguesa da cidade e não me contentando somente com o Portal de Santiago e a Igreja São Paulo, no final do dia fomos visitar o tal bairro português que vi em alguns guias e na internet… confesso que foi uma decepçãosinha, já que apesar da pequena influência das construções, não foi algo impactante, entendem? O bacana mesmo foi notar o leve traço portugues nas pessoas e tentar captar uma pouco da lingua Kristang, uma mistura de portugues com Malaio, que você pode ver o exemplo abaixo:

Poema de Malacca
Keng teng fortuna ficah na Malaka,
Nang kereh partih bai otru tera.
Pra ki tudu jenti teng amizadi,
Kontu partih logo ficah saudadi.
Ó Malaka, tera di San Francisku,
Nten otru tera ki yo kereh.
Ó Malaka undi teng sempri fresku,
Yo kereh ficah atih moreh.
Tradução em português:
Quem tem fortuna fica em Malaca,
Não quer partir para outra terra.
Por aqui toda a gente tem amizade,
Quando partir logo fica a saudade.
Ó Malaca, terra de São Francisco,
Não há outra terra que eu quero.
Ó Malaca, onde tem sempre ar fresco,
Eu quero ficar até morrer.

Fonte: Wikipedia

Kuala Lumpur pode ser imponente e moderna, mas uma coisa é certa, em Málaca encontrei a Malásia que estava procurando!